Comitê de Preservação da Memória Corinthiana
Mala Corinthiana
CORINTHIANOS PARTICIPAM DE VOLTA AO MUNDO
Tudo começou com os imigrantes. Milhares deles aportaram na cidade, vindos por diferentes motivações, mais com um sonho comum: oportunidade. Ainda hoje, São Paulo serve de chegada para famílias do mundo inteiro que carregam consigo muita esperança. Desse contexto, o SESC Pompéia retirou o argumento para homenagear a cidade em seu aniversário. E sua representação chamou-se “Uma Viagem de 450 anos”. De janeiro a fevereiro de 2004, a instalação contou com a participação de artistas plásticos que definiram cada um em sua mala de Eucatex, a interpretação da metrópole. Como um viajante que se preze, a mostra assumiu seu aspecto itinerante e ganhou novas feições. Uma delas é o próprio nome, que agora atende por “Volta a São Paulo em Mais de 80 Malas”, com curadoria de Dario Bueno, Wagner Gallo e Adilson Lopes. E o ponto de partida foi o Memorial do Imigrante, que recebeu novas malas e abriu as portas em 23 de maio, com bagagens vindas de diferentes Nações, caso da assinada pelo Comitê de Preservação da Memória Corinthiana, que recebeu a incumbência de representar o torcedor. Com a colaboração de personalidades, como Marlene Matheus e Ernesto Teixeira, e da torcedora-símbolo Maria Madalena, o baú alvinegro é uma celebração da fé encontrada nas arquibancadas que permeiam o futebol. Batizada como “Saravá, Corinthians” a peça recebeu símbolos característicos do time, como o São Jorge, as velas brancas e pretas, os charutos e outras acepções do sincretismo religioso, próprio do corinthiano.

SOBRE A MALA
Fotos, imagens e recortes:
Acervo cedido pelo Comitê de Preservação da Memória Corinthiana (CPMC) e Museu dos Esportes de Maceió; Acervo pessoal das jornalistas Patrícia Favalle e Adriana Brito e da torcedora Madalena.

Patuás e mandingas:
Imagem de São Jorge de Capadócia: Marlene Matheus; Galinha de Angola e recipientes: Pai Jaú; Colar de contas, figas, ferradura, alfazema, velas, alho, charuto e outros itens: Pai Jaú; Sal grosso, carvão e pimenta vermelha: Maria Aparecida Sanches.

Instrumentos e sons de arquibancada:
Caixa e pandeiro: Chico do Charuto e Tam-Tam (ambos torcedores históricos, já falecidos)

Lembranças e relíquias:
Par de botas, exemplares de jornais antigos, camiseta dos Gaviões da Fiel, faixa de Campeão: Madalena; Camiseta Vicente Matheus: Marlene Matheus; Camiseta Jubileu de Pérola por Conceição Cahú, exemplar do livro Doutor Futebol: Patrícia Favalle/ Adriana Brito; Caderno com recortes, ilustrações sobre o Corinthians: Cristiano; Camisetas do Corinthians e dos Gaviões da Fiel: Ernesto Teixeira; rádio de pilha, Tia Elisa.

Montagem:
Comitê de Preservação da Memória Corinthians

Agradecimentos:
Dario Bueno, Wagner Gallo, Adilson Lopes, Memorial do Imigrante, Movimento Artístico Liberdade na Arte (Mala) e todos aqueles que cederam itens importantes de suas coleções.

SARAVÁ, CORINTHIANS!
Maria Madalena – uma torcedora fiel

Todos os patuás e mandingas são mais poderosos se feitos com fé. E fé é condição obrigatória, já que nenhum corinthiano que se preze deve esquecer que toda luta precisa de um bom guerreiro – eu recomendo São Jorge. Imagine quantas foram às vezes que chorei abraçada com o corinthiano do lado, seja pela dor de um título perdido, ou pelas vitórias do meu Timão. E estes novos amigos, conhecidos de 90 minutos, fazem daqueles degraus uma verdadeira catedral, onde não se come – se comunga, e os hinos não são mais que orações para o Todo Poderoso Timão. Há 26 anos, quando o time entrava em campo de cabeça baixa, carregando a responsabilidade de quebrar o jejum, qual não foi a nossa certeza de que naquele torneio seríamos campeões. E sabíamos disso antes mesmo dos jogadores, do Brandão, do Vicente Matheus, dos jornalistas e do mau-olhado de plantão. O que se acendeu de vela, o que se comprou de galinha preta, o que se desenterrou – ou enterrou – de sapos por aí, deixou muito dono de casa de macumba rico. A peregrinação que fazíamos às partidas era questão de vida – e de morte. Numa dessas viagens, no jogo contra o XV de Piracicaba, em Jaú, levei ao extremo a minha devoção. Não agüentei a possibilidade de uma derrota e queria – como todo o torcedor – estar soprando no ouvido do técnico: “vai, coloca este aqui”, “tira este”, “presta atenção nas pontas”... E num lance rápido, nem acredito que tenha feito isso – com estas botas de salto (hoje, parte dos meus patuás), pulei o alambrado ‘pra mostrar como deveria ser feito’. Sai driblando os policiais, um a um. Até que uma rasteira me fez cair aos pés do seu Brandão, que levantou os braços e gritou: “Pára!”. Observo agora, que eu tava certa. O que faltava era garra e um bocado de fé. E aquele pessoal suou, correu, fez gol de tudo quanto é jeito até conquistar o título de Campeão Paulista de 1977. Tanto tempo depois, eu ainda acompanho o meu Corinthians. Na mala, ao lado do meu livro de cabeceira, a biografia do Dr. Sócrates, um pouco de superstição: umas velas, uma pinga pro Santo (ou para os imprevistos), carvão, sal grosso, alho, pimenta e figas para espantar olho-gordo, um pandeirinho para a hora da comemoração, bandeira e camisas do Timão, a imagem do São Jorge e do Vicentão (pra darem sorte), umas contas e um terço, benzidos com água benta. O ritual pede charutos, defumadores, galinhas pretas, alfazema e preces. Em períodos de crise, eu costumo dobrar a receita. E pra não dar errado, visto as botas pretas, o chapéu da Tia Elisa, abraço a minha malinha-altar e digo baixinho treze vezes: Saravá, Corinthians! Saravá!